5 Sinais de Dificuldades Emocionais em Crianças (e Como Ajudar)

5 Sinais de Dificuldades Emocionais em Crianças (e Como Ajudar)

 

As emoções são como um mapa que guia as crianças na forma como se relacionam com o mundo, aprendem e crescem. Na infância, este mapa ainda está a ser desenhado, e, tal como acontece com qualquer desenho em construção, por vezes aparecem linhas tortas ou espaços em branco que precisam de atenção especial. Reconhecer sinais de dificuldades emocionais não significa diagnosticar ou rotular, mas sim perceber que algo na “bússola interna” da criança está a pedir cuidado.

 

A seguir, exploramos cinco sinais comuns que podem indicar que uma criança precisa de mais apoio emocional. Em vez de serem vistos como problemas isolados, estes comportamentos devem ser compreendidos como mensagens que o próprio sistema emocional da criança está a tentar transmitir.

 

Alterações de humor frequentes e intensidade elevada

Todas as crianças têm altos e baixos, mas quando as mudanças de humor são muito bruscas e ocorrem várias vezes ao dia, sem um motivo aparente, isso pode estar a indicar uma dificuldade em regular as emoções. É como se o “termóstato emocional” estivesse avariado, alternando rapidamente entre calor intenso e frio repentino.

 

Num estudo de William Copeland, investigador do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais, da Duke University Medical Center, verificou-se que dificuldades persistentes de regulação emocional na infância estão associadas a um risco significativamente maior de ansiedade e depressão na vida adulta.

 

Quando a criança vive num ciclo constante de alegria súbita seguida de tristeza ou raiva intensa, o corpo e a mente ficam sobrecarregados, tornando mais difícil focar-se na aprendizagem e nas relações sociais. Nestes casos, a presença de um adulto calmo e consistente é fundamental. Pequenas rotinas previsíveis, momentos diários para conversar e validar emoções e o ensino de estratégias simples de autorregulação como respirar fundo ou usar palavras para nomear sentimentos, podem fazer uma grande diferença.

 

Isolamento social e afastamento das brincadeiras

Brincar é a “linguagem universal” da infância, uma das formas mais puras de aprender a comunicar, a cooperar e a resolver conflitos. Quando uma criança começa a evitar sistematicamente os colegas, recusa convites para brincar ou prefere estar sozinha em atividades de grupo, isso pode ser um sinal de que se está a sentir insegura, ansiosa ou desconectada.

 

O isolamento emocional é como uma ilha que a criança constrói à sua volta. No curto prazo, pode parecer que ela está apenas “no seu mundo”, mas, a longo prazo, esta distância reduz a prática de competências sociais e a capacidade de criar vínculos saudáveis. Alguns estudos têm mostrado que crianças que evitam interações sociais têm maior probabilidade de desenvolver problemas emocionais e de autoestima na adolescência.

 

Para ajudar, é essencial criar oportunidades de interação seguras e estruturadas, desde jogos cooperativos em casa a atividades extracurriculares onde a criança se sinta acolhida. E, claro, trabalhar em conjunto com a escola para perceber se há fatores externos, como bullying, a contribuir para o afastamento.

 

Regressão de comportamentos

Quando uma criança volta a comportamentos de fases anteriores do desenvolvimento, como falar com voz infantilizada, chupar o dedo ou ter episódios de enurese (fazer xixi na cama), isso pode indicar que está a lidar com stress emocional ou mudanças difíceis. É como se, perante um desafio, ela voltasse para um “porto seguro” conhecido.

 

Embora pequenas regressões sejam normais em períodos de transição, por exemplo, com a chegada de um irmão ou mudança de escola, quando persistem durante semanas ou meses, merecem atenção. A regressão é, muitas vezes, uma forma não-verbal de dizer: “Preciso de segurança e conforto”.

 

Ajudar neste contexto significa reforçar a sensação de proteção, evitar críticas ou comparações e criar momentos de conexão e previsibilidade. Rotinas estáveis, contacto físico afetuoso e atividades relaxantes, como leitura antes de dormir, podem ajudar a criança a retomar gradualmente o seu percurso de desenvolvimento.

 

Queixas físicas frequentes sem causa médica aparente

Dores de barriga antes da escola, dores de cabeça recorrentes ou queixas de cansaço constante podem, em alguns casos, ser expressões físicas de stress ou ansiedade. Quando não existe uma explicação médica, estas queixas são como um “alarme silencioso” que o corpo ativa para dizer que algo não está bem emocionalmente.

 

O fenómeno, conhecido como somatização: as emoções, especialmente quando não são reconhecidas ou expressas, podem desencadear respostas físicas no organismo, afetando o sistema digestivo, o sono e a energia.

 

É importante levar estas queixas a sério: validar a dor, investigar possíveis padrões (por exemplo, se ocorrem antes de certas atividades ou encontros) e criar espaços para que a criança possa expressar preocupações e medos. Quanto mais cedo se estabelecer esta ponte entre corpo e emoções, mais fácil será para ela compreender e gerir o que sente.

 

Explosões de raiva ou agressividade excessiva

A raiva é uma emoção natural e necessária, mas quando se manifesta com frequência e de forma desproporcionada, através de gritos, birras prolongadas ou comportamentos agressivos, pode estar a indicar que a criança não dispõe de estratégias adequadas para lidar com a frustração ou com sentimentos de injustiça.

 

Um estudo conduzido por Frank Paulus, investigador do Departamento de Psiquiatria de Crianças e Adolescenetes, da Saarland University, na Alemanha, verificou que crianças com dificuldades de regulação da raiva apresentavam uma ativação mais intensa da amígdala, a área do cérebro ligada às respostas emocionais, o que dificulta a tomada de decisões racionais no momento do conflito. É como se estivessem constantemente em “modo sobrevivência”, prontas a reagir sem tempo para refletir.

 

Para apoiar, é útil ensinar “pausas emocionais”: parar, respirar, contar até cinco ou usar um objeto de calma, como uma bola anti-stress. Ter um “cantinho da calma” em casa ou na sala de aula, onde a criança possa se recompor antes de continuar a interação, também pode ser uma estratégia eficaz.

 

Porque a intervenção precoce é tão importante

As crianças que apresentam sinais de dificuldades emocionais e não recebem apoio adequado têm até três vezes mais probabilidade de enfrentar desafios significativos na vida adulta, incluindo problemas de saúde mental, dificuldades de inserção profissional e relações interpessoais instáveis.

 

A boa notícia é que a infância é um período de elevada neuroplasticidade, onde o cérebro está constantemente a criar e eliminar conexões. Isso significa que intervenções consistentes, ambientes seguros e modelos positivos podem ter um impacto profundo e duradouro.

 

Ao reconhecer estes sinais e agir de forma empática, estamos a oferecer às crianças não apenas alívio para os desafios imediatos, mas também um conjunto de competências emocionais que as acompanhará para o resto da vida.

 

Referências

Copeland, W. E., Wolke, D., Shanahan, L., & Costello, E. J. (2015). Adult Functional Outcomes of Common Childhood Psychiatric Problems: A Prospective, Longitudinal Study. JAMA psychiatry72(9), 892–899. https://doi.org/10.1001/jamapsychiatry.2015.0730

Paulus, F. W., Ohmann, S., Möhler, E., Plener, P., & Popow, C. (2021). Emotional Dysregulation in Children and Adolescents With Psychiatric Disorders. A Narrative Review. Frontiers in psychiatry12, 628252. https://doi.org/10.3389/fpsyt.2021.628252

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