As emoções fazem parte de cada momento da nossa vida. Elas influenciam o modo como pensamos, como nos relacionamos com os outros e como tomamos decisões. No contexto escolar, o impacto das emoções é ainda mais evidente: uma criança que se sente segura, confiante e motivada tem maior facilidade em aprender e colaborar. Por outro lado, quando as emoções estão desreguladas — como ansiedade intensa, frustração ou tristeza persistente — a aprendizagem e a convivência social podem ser fortemente prejudicadas.
Neste artigo, vamos explorar como as emoções e aprendizagem estão profundamente ligadas, qual o seu impacto no sucesso escolar e social, e como podemos ajudar as crianças a desenvolver competências emocionais que as preparem para a vida.
O que a ciência nos diz sobre emoções e aprendizagem
O cérebro humano não aprende de forma isolada. A região do cérebro que processa emoções (o sistema límbico) comunica diretamente com as áreas responsáveis pela memória, atenção e tomada de decisão. Quando sentimos emoções positivas, como alegria ou curiosidade, o cérebro libera neurotransmissores (como a dopamina), que facilitam a concentração e a consolidação da memória.
Um estudo de Immordino-Yang e Damasio (2007) demonstrou que as emoções são essenciais para o raciocínio e para a aprendizagem significativa. Os alunos lembram-se melhor do que estudam quando conseguem estabelecer uma ligação emocional ao conteúdo. Por exemplo, uma criança que aprende sobre ecossistemas enquanto cuida de uma pequena horta na escola vai associar essa experiência a uma emoção positiva de responsabilidade e cuidado.
Por outro lado, emoções negativas intensas, como medo ou ansiedade, podem ativar a amígdala, gerando uma resposta de “luta ou fuga”. Quando isso acontece, o cérebro fica mais focado na sobrevivência do que na aprendizagem, dificultando a atenção e a retenção de informação.
Emoções e sucesso escolar
1. Motivação e desempenho académico
A motivação está diretamente relacionada às emoções. Um aluno que sente entusiasmo por aprender tende a envolver-se mais nas tarefas, persistir nos desafios e apresentar melhores resultados. Por exemplo, professores que usam métodos ativos — jogos, projetos de grupo e experiências práticas — ajudam os alunos a associar o estudo a emoções positivas.
Já quando um aluno associa a aprendizagem a emoções negativas (como frustração constante ou medo de falhar), pode desenvolver resistência, evitar tarefas ou mesmo adotar comportamentos desafiadores como defesa.
2. Relação com professores e colegas
As emoções também influenciam a forma como as crianças e jovens interagem no ambiente escolar. Uma criança emocionalmente regulada é capaz de lidar melhor com conflitos, cooperar em trabalhos de grupo e pedir ajuda quando precisa. Isso reflete-se diretamente no seu desempenho, porque aprender em grupo exige empatia, respeito e comunicação.
Alunos com dificuldades de regulação emocional podem ter mais conflitos interpessoais, sentirem-se isolados ou apresentarem comportamentos de oposição. Tudo isso impacta não só o rendimento académico, mas também o bem-estar e a integração social.
3. Resiliência e gestão de frustrações
Aprender implica errar — e lidar com o erro nem sempre é fácil. A capacidade de enfrentar frustrações, de aceitar que falhar faz parte do processo, é um dos pilares do sucesso escolar. Alunos que desenvolvem resiliência emocional têm mais facilidade em recuperar de notas baixas ou de situações de conflito, mantendo-se focados nos seus objetivos.
Um bom exemplo são as crianças que aprendem a usar estratégias de autorregulação (como respiração, pausa ou pedir ajuda) em momentos de stress: essas ferramentas ajudam a manter o equilíbrio emocional e a evitar respostas impulsivas.
Emoções e sucesso social
A escola não é apenas um espaço de aprendizagem académica; é também um contexto de socialização. Ali, as crianças aprendem a conviver com diferentes personalidades, a negociar regras e a gerir emoções em situações de grupo.
1. Empatia e relações saudáveis
A empatia — a capacidade de compreender o que o outro sente — é fundamental para criar relações de confiança. Crianças que aprendem a reconhecer emoções nos outros tendem a ter menos conflitos, mais amizades sólidas e maior capacidade de trabalhar em equipa.
2. Comunicação e resolução de conflitos
Saber expressar sentimentos de forma adequada é essencial para evitar mal-entendidos e conflitos. Por exemplo, uma criança que consegue dizer “Fiquei triste quando não me escolheste para o jogo” em vez de reagir com agressividade tem mais hipóteses de manter uma relação positiva com os colegas.
3. Pertencimento e autoestima
As emoções também influenciam o sentimento de pertença: quando uma criança se sente aceite e valorizada, tem maior autoestima e confiança para se envolver nas atividades escolares e sociais.
Como trabalhar emoções e aprendizagem no dia a dia?
1. Criar um ambiente emocionalmente seguro
Tanto em casa como na escola, as crianças precisam sentir-se seguras para expressar emoções sem medo de julgamento ou castigo. Isso significa ouvir com atenção, validar os sentimentos e evitar críticas excessivas.
Exemplo de validação:
- “Eu entendo que este trabalho foi difícil para ti e que te sentiste frustrado. Vamos pensar juntos em como podes melhorar da próxima vez?”
2. Ensinar vocabulário emocional
Quanto mais palavras uma criança conhece para nomear emoções, mais fácil será compreendê-las e regulá-las. Em vez de apenas dizer “Estou mal”, aprender a dizer “Estou frustrado” ou “Sinto-me ansioso com a apresentação” dá clareza ao que está a sentir e permite agir com mais consciência.
Uma forma simples de trabalhar isso é usar jogos educativos sobre emoções, como o jogo “Sabes Quem Tu És?”, que promove conversas sobre diferentes sentimentos através de cartas e desafios.
3. Integrar atividades socioemocionais no currículo
Pequenas rotinas podem fazer uma grande diferença:
- Iniciar o dia com uma roda de emoções, onde cada aluno partilha como se sente.
- Usar histórias ou filmes para explorar sentimentos dos personagens.
- Fazer pausas ativas e exercícios de respiração antes de testes ou apresentações.
Estas estratégias ajudam as crianças a aprenderem a identificar e regular emoções, reduzindo a ansiedade e aumentando a atenção.
4. Modelar comportamentos emocionais
Os adultos são o maior exemplo para as crianças. Mostrar como lidamos com as nossas próprias emoções ensina mais do que mil explicações. Por exemplo:
- “Hoje estou um pouco nervoso porque tenho uma reunião importante, por isso vou respirar fundo para me acalmar.”
- “Senti-me frustrado, mas consegui resolver conversando.”
Esse tipo de modelagem ajuda a criança a perceber que todas as emoções são normais e que é possível lidar com elas de forma saudável.
Ferramentas e recursos
Além das estratégias no dia a dia, existem ferramentas que facilitam o trabalho das emoções:
- Jogos de cartas emocionais: para explorar sentimentos de forma lúdica.
- Livros infantis sobre emoções: que ajudam a normalizar sentimentos e ensinar vocabulário emocional.
- Aplicações de mindfulness para crianças: simples e eficazes para desenvolver atenção plena.
As emoções e aprendizagem estão profundamente conectadas. Não se trata apenas de ensinar conteúdos académicos, mas de ajudar as crianças a lidar com o que sentem, a relacionar-se com os outros e a construir uma base emocional sólida para a vida.
Trabalhar competências emocionais melhora o rendimento académico, fortalece as relações sociais e prepara os alunos para enfrentar desafios dentro e fora da escola. Pequenas ações — como validar sentimentos, ensinar vocabulário emocional e usar jogos educativos — podem ter um impacto profundo e duradouro.
Deixar comentário
Este site está protegido pela Política de privacidade da hCaptcha e da hCaptcha e aplicam-se os Termos de serviço das mesmas.