As emoções fazem parte da vida desde o primeiro choro de um bebé até às expressões mais complexas da adolescência. Mas, antes de compreenderem sentimentos mais sofisticados como frustração, orgulho ou vergonha, as crianças precisam de aprender as emoções básicas: alegria, tristeza, raiva, medo, surpresa e nojo.
Estas são seis emoções identificadas por Paul Ekman, que defende que são universais, presentes em todas as culturas e são o alicerce da literacia emocional. Ensinar as emoções básicas não é apenas “dar nomes” a sentimentos, é oferecer ferramentas para que a criança consiga comunicar melhor, compreender o outro e regular o próprio comportamento.
E a melhor parte? Este processo pode (e deve) ser divertido!
Porque é importante ensinar as emoções básicas
Muitos adultos dizem frases como “as crianças não têm grandes preocupações” ou “eles não sabem o que é stress”. A verdade é que, mesmo em idades pequenas, as crianças sentem tudo de forma intensa. Saber identificar e expressar as emoções básicas ajuda a:
- Reconhecer e comunicar necessidades: em vez de um choro prolongado, a criança aprende a dizer “estou triste porque queria brincar mais”.
- Desenvolver empatia: quando compreende o que sente, fica mais fácil entender o que os outros também sentem.
- Prevenir conflitos: muitas birras e desentendimentos vêm da dificuldade em expressar emoções de forma adequada.
- Criar bases para aprendizagens futuras: uma criança que reconhece alegria, raiva ou tristeza terá mais facilidade em compreender depois emoções mais complexas.
- Fortalecer a autoestima: quando sabe que o que sente é legítimo, a criança sente-se mais segura para partilhar e procurar ajuda.
Alguns estudos mostram que crianças com maior consciência emocional têm melhor desempenho académico, relacionam-se com mais facilidade e apresentam níveis mais baixos de ansiedade e depressão (Denham et al., 2012).
Estratégias divertidas para ensinar as emoções básicas
1. Brincar com expressões faciais
As expressões faciais são o primeiro “dicionário emocional” das crianças. Faz um jogo de mímica em que cada um representa uma emoção e os outros têm de adivinhar.
- “Quem consegue fazer a cara mais zangada?”
- “Mostra a tua cara de surpresa!”
Depois, tira fotografias e cria um álbum das emoções da família. É um recurso visual poderoso que a criança pode rever sempre que quiser.
2. Caça às emoções em livros e filmes
As histórias são uma porta de entrada para o mundo emocional. Enquanto leem um livro ou veem um filme juntos, pausa em determinados momentos e pergunta:
- “Como achas que esta personagem está a sentir-se agora?”
- “O que te faz pensar isso?”
Isto ajuda a criança a praticar a observação, a empatia e a expandir o vocabulário emocional.
3. Cartas emocionais
Utiliza cartas com imagens de emoções básicas. Pede à criança para escolher uma carta que represente como se sentiu durante o dia e explique o motivo.
Exemplo: “Hoje escolho a carta da alegria porque brinquei no recreio.”
👉 Jogos como os da Emoty Games são uma forma envolvente de transformar este exercício em algo divertido e interativo.
4. O termómetro das emoções
Desenha um termómetro colorido com três níveis:
- Verde = calmo
- Amarelo = a ficar nervoso
- Vermelho = muito zangado
Pede à criança que se coloque no termómetro em diferentes momentos do dia. Este recurso visual ajuda-a a reconhecer quando precisa de uma pausa e a procurar estratégias de autorregulação.
5. A caixa da surpresa
Enche uma caixa com objetos ou imagens e pede à criança para os associar a uma emoção básica.
Exemplo:
- Um brinquedo partido → tristeza
- Um presente inesperado → alegria
- Um inseto de plástico → medo
Este jogo estimula a imaginação e a ligação entre situações reais e emoções.
6. Dramatizações do dia-a-dia
Recria pequenas situações do quotidiano em modo de teatro:
- “O amigo não quis emprestar o brinquedo” → raiva
- “Recebeste um elogio do professor” → alegria
- “O jogo acabou e não ganhaste” → tristeza
Representar ajuda a criança a compreender que todas as emoções são normais e acontecem em diferentes contextos.
7. Arte e criatividade emocional
Desenho, pintura, música e dança são canais privilegiados para expressar emoções. Podes pedir à criança:
- “Desenha como está o teu coração hoje.”
- “Que música combina com o que sentes agora?”
- “Mostra em dança como é a alegria.”
Estas atividades permitem expressar sentimentos sem a pressão de ter de falar.
Dicas para pais e educadores
- Nomeia sempre a emoção: dizer “Vejo que estás triste” ajuda a criança a ligar a sensação interior à palavra.
- Valida o que sente: substitui “não chores por isso” por “eu percebo que estejas triste, era importante para ti”.
- Dá o exemplo: partilha as tuas emoções: “Hoje fiquei nervoso numa reunião, mas respirei fundo e consegui.”
- Celebra todas as emoções: mostra que medo, raiva ou tristeza são tão legítimas quanto alegria.
- Repete e retoma: a literacia emocional não se aprende de uma vez. Pequenas práticas diárias fazem toda a diferença.
Conclusão
Ensinar as emoções básicas é como dar um mapa às crianças para navegarem no mundo interior. Quanto mais cedo aprendem a reconhecer e expressar sentimentos como alegria, tristeza, medo ou raiva, mais preparadas estarão para desenvolver empatia, comunicar de forma clara e lidar com os desafios da vida.
E lembra-te: o processo não precisa de ser sério nem pesado. Ao transformar o ensino das emoções em brincadeira, estás a criar momentos de conexão, confiança e crescimento, tanto para a criança como para ti.
Porque brincar com as emoções é, no fundo, preparar os adultos resilientes, empáticos e conscientes de amanhã.





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