Como Usar Cartas Emocionais com Crianças e Adolescentes

Como Usar Cartas Emocionais com Crianças e Adolescentes

As cartas emocionais são uma ferramenta prática e envolvente para trabalhar emoções com crianças e adolescentes. Simples, intuitivas e adaptáveis a diferentes contextos (casa, escola ou consultório), permitem transformar conversas sobre sentimentos, que muitas vezes são difíceis ou constrangedoras, em algo natural e até divertido.

Neste artigo, vamos explorar o que são cartas emocionais, como utilizar, quais os seus benefícios e apresentar atividades práticas para aplicares com crianças e jovens.

O que são cartas emocionais?

As cartas emocionais são conjuntos de cartas ilustradas ou escritas que representam diferentes emoções, situações ou perguntas relacionadas com o mundo emocional.
Podem incluir:

  • Expressões faciais: imagens de pessoas ou personagens a demonstrar emoções como alegria, tristeza, medo ou raiva.
  • Palavras ou conceitos emocionais: como “coragem”, “frustração” ou “orgulho”.
  • Perguntas reflexivas: por exemplo, “Conta um momento em que te sentiste muito orgulhoso” ou “O que fazes quando tens medo?”. Um exemplo poderá ser o nosso jogo de cartas, “Sabes Quem Tu És?”.

Estas cartas podem ser compradas já prontas ou criadas manualmente com crianças, tornando o processo ainda mais personalizado.

Benefícios de usar cartas emocionais                   

1. Facilita a expressão emocional

Muitas crianças e adolescentes têm dificuldade em colocar em palavras o que sentem. Às vezes não sabem identificar o que estão a sentir, outras vezes têm vergonha ou receio de serem julgados. As cartas emocionais funcionam como pontes de comunicação, tornando a conversa mais leve e indireta. Quando uma criança escolhe uma carta com uma cara triste ou com a palavra “frustração”, está a comunicar sem precisar de grandes explicações. Isso reduz a pressão emocional e cria um espaço seguro, onde o diálogo acontece de forma natural e espontânea.

 

2. Desenvolve vocabulário emocional

Um dos pilares da inteligência emocional é ter vocabulário suficiente para reconhecer e nomear as emoções. Ao associar imagens, palavras ou perguntas às cartas, a criança amplia o seu repertório emocional. Em vez de dizer apenas “estou mal”, começa a diferenciar sentimentos como “ansiedade”, “medo”, “desânimo” ou “irritação”. Ter esse vocabulário ajuda a comunicar de forma mais clara e evita comportamentos impulsivos, porque a criança aprende a expressar verbalmente o que sente em vez de agir apenas com o corpo (chorar, gritar, bater ou isolar-se). 

 

3. Promove empatia

Quando uma criança ou adolescente explora diferentes cartas, começa a perceber que as emoções não são universais nem acontecem da mesma forma em todas as pessoas. A carta que representa “alegria” pode ter significados diferentes para cada um, tal como a carta “medo” pode estar ligada a experiências únicas. Este processo ensina que cada pessoa tem a sua própria forma de sentir e expressar. Como consequência, aumenta a empatia e a capacidade de respeitar o outro, reduzindo conflitos e promovendo relações mais saudáveis. Num contexto de grupo, as cartas emocionais podem inclusive ser usadas para que as crianças partilhem experiências semelhantes, criando laços de apoio e compreensão mútua.

 

4. Torna o processo lúdico

Um dos maiores desafios de falar de emoções, especialmente com crianças e adolescentes, é evitar que o processo pareça uma “aula” ou uma conversa pesada. As cartas emocionais transformam o diálogo num momento de jogo. A experiência deixa de ser um “exercício de autoconhecimento” e passa a ser uma brincadeira divertida e envolvente. Isso é especialmente importante para crianças mais resistentes a falar sobre si ou para adolescentes que podem sentir-se desconfortáveis com perguntas diretas. O caráter lúdico reduz barreiras, promove maior participação e aumenta a probabilidade de que as conversas emocionais se tornem uma rotina positiva, e não uma obrigação.

 

Atividades práticas com cartas emocionais

 

A. Roda da Emoção do Dia

Começa a sessão pedindo a cada criança ou adolescente que escolha uma carta que represente como se sente naquele momento. Depois, convida-a a partilhar a razão dessa escolha: “Escolhi esta carta com um rosto zangado porque hoje tive uma discussão com o meu irmão” ou “Escolhi esta carta com um coração porque estou feliz por ter tido um bom dia”.

Objetivo: este exercício aumenta a consciência emocional ao ajudar a criança a identificar e nomear o que sente, além de incentivar o diálogo aberto sobre o seu dia. Pode ser feito em casa (por exemplo, antes do jantar) ou em contexto de sala de aula, promovendo momentos de conexão logo no início ou no final das atividades.

 

B. Histórias com Emoções

Distribui de três a cinco cartas aleatórias a cada criança ou adolescente e pede que criem uma história curta em que apareçam todas as emoções selecionadas. Por exemplo: “Um menino estava feliz (carta alegria) porque ganhou um jogo, mas ficou com medo (carta medo) quando ouviu um barulho estranho, e depois sentiu orgulho (carta orgulho) por ter chamado ajuda.”

Objetivo: além de estimular a criatividade, este jogo permite que a criança perceba que as emoções mudam ao longo do tempo e podem coexistir. Também trabalha a empatia, já que ao criar histórias, as crianças se colocam no lugar das personagens, entendendo as suas experiências emocionais.

 

C. Resolução de Conflitos

Quando surge um conflito entre irmãos, colegas ou amigos, pega no baralho de cartas e pede que cada um escolha as cartas que representam como se sentiu durante a situação. Por exemplo: “Eu senti frustração porque ninguém me ouviu” ou “Eu senti tristeza porque pensei que não gostavam de mim”.

Objetivo: este exercício ajuda as crianças a nomear as emoções envolvidas no conflito, algo essencial para resolver problemas de forma calma e consciente. Depois de nomear os sentimentos, podem discutir soluções juntos: “O que podemos fazer diferente da próxima vez para evitar que isto aconteça?”. Esta prática promove autorregulação, empatia e capacidade de diálogo.

 

D. Caixinha da Reflexão

Cria um conjunto de cartas com perguntas abertas, como:

  • “Conta um momento em que te sentiste corajoso.”
  • “O que costumas fazer quando estás com medo?”
  • “Como te sentes quando alguém não concorda contigo?”
    Podes sortear uma pergunta no final do dia em família ou usar em contexto escolar, como parte de um círculo de partilha semanal.

Objetivo: esta atividade promove autorreflexão, ajuda a criança a pensar sobre as suas experiências emocionais e dá espaço para que se sintam ouvidas num ambiente seguro e sem julgamento. Também reforça a capacidade de pensar antes de agir, essencial para o desenvolvimento emocional.

 

E. Check-in de Grupo

Em contexto escolar, terapêutico ou até familiar, cada participante escolhe uma carta no início ou no final da sessão que represente como se sente ou algo que aprendeu. Por exemplo: “Hoje escolho a carta alegria porque gostei de aprender coisas novas” ou “Escolho a carta confusão porque ainda tenho dúvidas sobre o que aconteceu”.

Objetivo: criar uma cultura de partilha emocional e de escuta ativa. Este exercício aumenta a confiança no grupo, fortalece relações e normaliza o diálogo sobre emoções. É uma excelente forma de iniciar reuniões, aulas ou sessões de terapia com uma nota de conexão emocional.

                                                                                                                                         

Como introduzir cartas emocionais no dia a dia

 

1. Escolhe um momento regular para usar as cartas

Para que o uso das cartas emocionais se torne uma prática natural e consistente, integra-as em momentos específicos da rotina. Não precisa de ser um processo formal ou demorado. Pode ser:

·       Antes de dormir: um check-in emocional para perceber como cada um se sente no final do dia.

·       Antes ou depois das refeições: um momento rápido de partilha para preparar ou encerrar o dia em família.

·       No início de uma aula ou sessão terapêutica: ideal para criar um ambiente de confiança e dar espaço a todos.
Criar essa rotina mostra à criança ou ao adolescente que falar de emoções é tão importante quanto falar de notas escolares ou planos do dia.

 

2. Participa ativamente

Não uses as cartas apenas como uma “ferramenta para eles”. Participa também! Escolhe a tua carta, partilha os teus sentimentos e experiências. Quando um adulto se abre e fala sobre o que sente, está a modelar o comportamento desejado e a mostrar que as emoções não são um tema “de criança” ou “de fraqueza”, mas sim algo natural e humano.
Além disso, quando os adultos participam, cria-se uma relação de confiança e igualdade: todos estão ali a partilhar, a ouvir e a aprender uns com os outros.

 

3. Adapta às diferentes idades

·       Crianças pequenas (3-6 anos): usa cartas com imagens grandes, cores vivas e poucas opções, para evitar confusão. Mantém as perguntas simples, como “Quando foi a última vez que te sentiste feliz hoje?”.

·       Crianças em idade escolar (7-11 anos): podes introduzir cartas com palavras escritas e incluir perguntas mais reflexivas, como “O que costumas fazer quando ficas nervoso?”.

·       Adolescentes (12+): desafia-os com cartas que envolvem conceitos mais complexos (ex.: “resiliência”, “esperança”, “solidão”) e perguntas mais profundas, como “Como lidas quando achas que ninguém te compreende?”.

 

Conclusão

As cartas emocionais são uma ferramenta poderosa para trabalhar sentimentos de forma prática, divertida e acessível.
Quer seja em família, na escola ou num contexto terapêutico, permitem desenvolver competências emocionais fundamentais, como a empatia, a comunicação e a autorregulação.

Com criatividade, podes adaptar os exercícios ao perfil de cada criança ou adolescente, transformando conversas difíceis em oportunidades de crescimento emocional e conexão.

 

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