Exercícios de Inteligência Emocional para Crianças e Adolescentes

 

A inteligência emocional é muito mais do que “saber lidar com as emoções”. É a capacidade de reconhecer o que sentimos, compreender por que sentimos e agir de forma consciente diante desses sentimentos, sem os reprimir, mas também sem nos deixarmos dominar por eles.

 

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, estas competências não surgem automaticamente com a idade. Elas são aprendidas e treinadas ao longo da vida, tal como acontece com a leitura ou a matemática. E quanto mais cedo começamos, mais naturais se tornam.

 

Neste guia, vais encontrar exercícios de inteligência emocional simples e adaptados para crianças e adolescentes, que podes aplicar em casa, na escola ou em contexto terapêutico.

 

Por que devemos trabalhar a inteligência emocional desde cedo?

As competências emocionais são essenciais para a vida. Alguns estudos mostram que as crianças com maior inteligência emocional apresentam:

• Melhor desempenho escolar.
• Maior capacidade de resolução de problemas.
• Menos comportamentos agressivos ou disruptivos.
• Mais empatia e relações sociais mais saudáveis.

Ao criar momentos intencionais para trabalhar estas competências, ajudamos os mais novos a desenvolver uma base sólida para enfrentar frustrações, tomar decisões conscientes e comunicar de forma mais clara e respeitosa.

 

5 Áreas-chave da Inteligência Emocional

Antes de começarmos com os exercícios, é importante lembrar que a inteligência emocional envolve várias competências interligadas, tais como:

1. Autoconsciência: Saber identificar e nomear emoções.
2. Autogestão: Conseguir regular o que sentimos e escolher como agir.
3. Consciência social: Reconhecer as emoções dos outros e ter empatia.
4. Competências relacionais: Comunicar e resolver conflitos de forma construtiva.
5. Tomada de decisão responsável: Considerar emoções, valores e consequências antes de agir.

 

Cada exercício que apresentamos a seguir pode trabalhar uma ou mais destas áreas.

 

Exercícios de Inteligência Emocional para Crianças e Adolescentes

 

1. O Termómetro das Emoções

• Idade recomendada: 4+
• Objetivo: Aumentar a consciência emocional.
• Como fazer:
  Desenha ou imprime um termómetro dividido em cores (por exemplo: azul = calmo, amarelo = animado, vermelho = muito zangado). Peça à criança ou adolescente para apontar onde se encontra no termómetro ao longo do dia e explicar porquê.
• Variação: Para adolescentes, podem ser usadas escalas de 1 a 10 com mais nuance, incentivando descrições mais complexas.

 

2. Caixinha das Perguntas Emocionais

• Idade recomendada: 6+
• Objetivo: Estimular a reflexão e a partilha emocional.
• Como fazer:
  Escreve perguntas como: “Qual foi o momento mais divertido do teu dia?”, “Quando foi a última vez que te sentiste corajoso?” ou “O que fazes quando estás frustrado?”. Coloca-as numa caixa e, diariamente ou semanalmente, tira uma para responderem juntos.
• Benefício extra: Pode ser feito em família, na sala de aula ou em sessões de grupo para criar conexão.

 

3. Emoção em Cenas

• Idade recomendada: 5+
• Objetivo: Reconhecer e expressar emoções.
• Como fazer:
  Cria cartões com diferentes emoções (raiva, alegria, medo, orgulho, tristeza, surpresa). A criança ou adolescente tira um cartão e deve representar essa emoção apenas com expressões faciais e linguagem corporal.
• Benefício extra: Desenvolve empatia ao tentar “ler” as expressões dos outros.

 

4. Diário das Emoções

• Idade recomendada: 7+
• Objetivo: Aumentar a autoconsciência e a autorregulação.
• Como fazer:
  Incentiva a escrever (ou desenhar, no caso dos mais pequenos) três coisas:
1. O que senti hoje.
2. Por que senti isso.
3. O que fiz para lidar com esse sentimento.
• Variação para adolescentes: Acrescentar uma secção sobre o que poderiam ter feito de forma diferente.

 

5. O “Se Eu Fosse…”

• Idade recomendada: 6+
• Objetivo: Desenvolver empatia e consciência social.
• Como fazer:
  Apresenta cenários: “Se eu fosse o novo aluno da turma e não conhecesse ninguém…”, “Se um amigo me dissesse que está triste porque perdeu o seu animal de estimação…”. Peça para imaginarem como se sentiriam e o que fariam.

 

6. Mapa do Corpo e Emoções

• Idade recomendada: 5+
• Objetivo: Reconhecer sensações físicas associadas às emoções.
• Como fazer:
  Usa uma silhueta do corpo humano e peça para colorir onde sentem cada emoção. Por exemplo, “raiva” no peito e nos punhos, “ansiedade” no estômago.
• Benefício extra: Ajuda a identificar sinais precoces de emoções intensas.

 

7. Resolução de Conflitos em 3 Passos

• Idade recomendada: 8+
• Objetivo: Desenvolver competências relacionais.
• Como fazer:
  Ensina três passos simples:
1. Dizer como me sinto (“Sinto-me…”).
2. Dizer o que preciso.
3. Procurar uma solução juntos.
• Exemplo: “Sinto-me frustrado quando mexes nas minhas coisas. Preciso que me perguntes antes. Podemos combinar isso?”

 

8. Respiração do Balão

• Idade recomendada: 3+
• Objetivo: Trabalhar autorregulação e acalmar o corpo.
• Como fazer:
  Peça para imaginarem que têm um balão na barriga. Inspirar lentamente, enchendo o “balão”, e expirar devagar, esvaziando-o.
• Benefício extra: Pode ser usada antes de testes, apresentações ou momentos de stress.

 

9. Linha do Tempo das Emoções

• Idade recomendada: 8+
• Objetivo: Refletir sobre mudanças emocionais ao longo do dia.
• Como fazer:
  Desenhar uma linha que represente o dia, marcando os momentos mais calmos, mais alegres, mais tensos e mais tristes. Conversar sobre o que ajudou ou prejudicou o estado emocional.

 

10. O “Jogo das Alternativas”

• Idade recomendada: 7+
• Objetivo: Estimular tomada de decisão responsável.
• Como fazer:
  Apresentar uma situação desafiante (“Um amigo está a falar mal de ti”) e pedir para pensar em três formas diferentes de reagir, avaliando prós e contras de cada uma.

 

Como aplicar estes exercícios no dia-a-dia

1. Regularidade é chave: Pequenos momentos diários valem mais do que grandes sessões esporádicas.
2. Modela o comportamento: Mostra como tu próprio lidas com emoções.
3. Cria um ambiente seguro: Onde todas as emoções são válidas, mesmo as difíceis.
4. Adapta à idade:O nível de profundidade e a linguagem devem ser ajustados ao desenvolvimento da criança ou adolescente.

 

Trabalhar a inteligência emocional não precisa de ser complicado. Com atividades simples, consistentes e adaptadas à idade, é possível ajudar crianças e adolescentes a crescerem mais conscientes de si, mais empáticos e mais preparados para lidar com os desafios da vida.

 

Afinal, as emoções não são um obstáculo, são uma bússola. E quanto mais cedo aprendermos a interpretá-las, mais seguros estaremos para navegar o mundo.